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A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

18 Jan, 2017

Breve memória

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O velho telefone tocou naquele som roufenho do século passado. Ramos passava os olhos pelas novidades desportivas todavia sem grande interesse e não lhe apeteceu nada atender. Olhou o relógio e pensou:

- Quem será a esta hora? Ainda não são oito e já me estão a chatear…

Mas a insistência era evidente e acabou por atender:

- Bom dia, agente José Ramos…

- Porra Zé… nunca mais atendias… estavas a dormir ou quê?

O chefe àquela hora? Havia coisa…

- Ou quê… Mas o que se passa Andrelino?

- Vem cá acima ao meu gabinete rapidamente.

- Agora?

- Sim agora. Não estás cá?

- Ohhhhhhh! Temos festa hoje…

- Zéééé? Despacha-te! Não tenho a tua vida e há mais que fazer…

O agente levantou-se visivelmente irritado, pegou no casaco que largara nas costas da velha e estafada cadeira e encaminhou-se para subir os dois andares que o separavam do chefe. O elevador estava avariado havia meses e sem qualquer previsão de arranjo. O seu corpo balofo e muito pesado teimava em não querer subir as escadas, mas não havia outra maneira.

Quando chegou perto da porta o coração parecia rebentar. Respirou fundo e por fim bateu.

- Entra – responderam.

- Bom dia chefe!

- Zé… deixa-te de coisas e escuta o que tenho para te dizer.

O caso parecia grave tal era o aspecto pesado de Andrelino Fajardo. Este pegou num papel e virou-o para o subalterno e comunicou:

- Tens aí um número de telefone de alguém que preciso que contactes com a máxima urgência. O caso tem a ver com o avião desaparecido há meses.

- Aquele que saiu de Amesterdão?

- Esse mesmo…

- Mas esse avião não desapareceu no mar…

- Tens a certeza?

- Bem, foi o que as autoridades disseram… A verdade é que não foram descobertas quaisquer destroços do avião…

- Pois bem… recebi uma chamada de um jornalista amigo que me afiança que um dos portugueses que viajava nesse avião está vivo mas pediu ajuda via telefone.

- Hã! O que me estás a dizer?

- Tens de pôr em contacto com esse tipo e perceber se é uma história a sério ou uma brincadeira… Mas não podemos descartar qualquer hipótese… Pode estar muita coisa em jogo…

- Mas logo nós… isso não devia ser coisa para outro tipo de polícia?

- Até aceito que sim… Mas imagina que é verdade e que nós descobrimos alguma coisa…hem? Já viste o prestígio que passamos a ter?

Ramos coçou a calva e sem mais palavras partiu para sua nova investigação.

Meditava o agente nestes acontecimentos recentes quando percebeu que Arlindo, meio disfarçado, saíra de casa. Sozinho!

 

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