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A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

12 Abr, 2015

Em fuga!

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O coração de Lídia quase estoirou. Então aquela é que era… a legítima. Deu alguns passos, tímidos e indecisos, em direcção a Arlindo, colocou-se a seu lado observando aquela mulher que caíra redonda no sofá profundamente ébria e serenamente deu a mão ao namorado. Este entrelaçou os dedos e soltou um suspiro. Tantos anos longe daquele estafermo, para aparecer agora, assim de repente, sem saber como…

Arlindo pegou rapidamente no telemóvel ligou um número e aguardou. Lídia perguntou-lhe:

- A quem estás a ligar?

- Ao 112!

- Para quê?

- Para a levar daqui para fora. Quero ficar longe deste estupor… para sempre!

- Mas ela é ainda a tua mulher.

- Legalmente sim… moralmente não!

Entretanto:

- Boa noite. Tenho aqui na minha casa uma colega que bebeu demais! Está quase em coma alcoólico. Será melhor levá-la para o hospital. E depressa.

O diálogo continuou durante um grande pedaço tentando diagnosticar o estado da esposa de Arlindo. Passado meia hora tocaram à campainha. Surgiram dois paramédicos, abordaram a mulher com competência e saber, acabando por colocá-la numa maca e levá-la para a ambulância.

- Quer acompanhá-la?

- Não posso! Estou de partida ainda hoje para o estrangeiro com a minha mulher.

E olhou para Lídia, que estranhamente nem esboçou qualquer gesto, como tudo fosse verdade.

- Conhece-lhe algum parente para o podermos contactar?

- Não… – mentiu.

- Obrigado. Nós avisaremos então a polícia. Pode ser que encontrem alguém próximo…

- Acho muito bem!

- Então boa-noite!

Assim que os enfermeiros saíram, Arlindo agarrou-se a Lídia e comunicou:

- Meu amor, vamos embora daqui…

A namorada estremeceu. Depois devolveu:

- Que se passa Arlindo?

- Quero fugir daqui o mais depressa possível. A polícia vai descobrir que eu ainda sou o marido e vai aparecer aqui. Vou contigo para a América e é já! Prepara-te, pois vamos para o aeroporto.

- Mas eu só tenho voo amanhã…

- Voamos para Paris, Madrid, Londres seja onde for e de lá seguimos para os Estados Unidos.

- Mas qual a necessidade? E o teu trabalho?

Pela primeira vez Arlindo perdera um pouco da sua compostura e continuou:

- Eu prefiro viver e envelhecer a teu lado do que trabalhar naquela empresa mas sem ti. A Jessica não é flor que se cheire e temos de fugir daquela… cabra. Enquanto eu estiver em Portugal ela há-de arranjar sempre maneira de infernizar a nossa vida.

Lídia percebia a posição do namorado mas não lhe apetecia andar a passear pela Europa só por causa de uma tipa, mesmo que fosse legalmente casada com Arlindo. Todavia…

- Se achas que é o melhor… então vamos!

Uma hora depois estavam ao balcão de uma companhia de aviação tentando comprar dois bilhetes para Nova Iorque com transbordo numa qualquer cidade europeia. Encontraram o que desejavam com partida duas horas depois. Voariam até Amesterdão e daqui para Nova Iorque. Chegariam no dia seguinte à cidade que nunca dorme.

Após terem passado as diversas barreiras de segurança sentaram-se e aguardaram o embarque. Lídia agarrara-se a Arlindo e este sentia-se imensamente feliz. Pela primeira vez na vida orgulhava-se da sua atitude. Largar tudo… por amor.

O coração parecia voar e de súbito virou-se para a namorada e declarou quase em surdina:

- Amo-te muito! – e depositou um beijo nos lábios rosados e frescos de Lídia. Esta aceitou o ósculo como se fosse a confirmação de amor que ambos nutriam um pelo outro.

- Tens fome? – Perguntou ela após longos segundos de profundo silêncio.

- Tenho. E tu?

- Também.

Decidiram então petiscar no bar que se encontrava na imensa sala de espera e que se ia enchendo de outros passageiros. À hora prevista embarcaram no avião de mãos dadas. Encontraram facilmente o lugar, sentaram-se e apertaram os cintos.

Quando o avião levantou voo direito ao céu negro, Arlindo dobrou-se sobre a namorada e espreitou pela janela. As luzes da cidade não passavam já de ínfimos pontos. Respirou fundo e deixou que uma lágrima corresse lentamente pela cara. Sabia que partia naquele instante jamais saberia quando regressaria.

Horas depois aterraram no enorme aeroporto de Amsterdão e percorreram os corredores até à sala de embarque para o avião que os levaria a Nova Iorque. Após breve espera voltaram a entrar no compartimento largo do avião de uma companhia de aviação americana.

Chovia copiosamente na cidade holandesa quando uma vez mais se elevaram no ar. Nas vidraças exteriores a chuva batia com violência enquanto a aeronave sacudia-se um pouco, mas nada de anormal. Arlindo beijou ternamente Lídia e esta recostou-se serenamente ao namorado. Segredou-lhe:

- Juntos para sempre.

Lídia apenas sorriu.

 

Senhores telespectadores, segundo uma estação de televisão inglesa, um avião das Linhas Aéreas Americanas foi dado como desaparecido esta madrugada. Fazia a ligação Amesterdão - Nova Iorque e transportava 256 passageiros. Suspeita-se que tinha sido alvo de um ataque terrorista. Aguardamos a todo o momento actualização de informações.

 (Porque ninguém gostou deste final... Segue aqui)

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