400 palavras - II
Teobaldo chega a casa e liga o interruptor da luz. Nenhum sinal!
Insiste. O mesmo resultado!
- Será que não paguei a conta da electricidade?
Tenta num instante, relembrar-se e tem a certeza de ter pago.
Teima. Nada.
Finalmente penetra no apartamento e aguarda que a visão se habitue à escuridão.
- Provavelmente o quadro dos fusíveis está desligado… - ocorre-lhe.
Depois apalpa o telemóvel, pega-lhe e com a luz do visor dá alguma vida à entrada. Finalmente é com um misto de espanto e de terror que percebe que a casa está… vazia!
Aponta para o tecto e descobre os fios soltos!
Não sabe o que pensar. A cabeça num turbilhão, entre incertezas e receios, quase implode.
- Calma, calma…
Recua até à entrada e procura situar-se.
- Será que me enganei no prédio? Parvoíce… Então e a chave? – questiona-se.
Decide procurar a vizinha do apartamento ao lado. Toca a campainha.
- Quem é?
Duvidando que saiba o seu nome, responde:
- É o vizinho aqui do lado…
Ouve rodar por diversas vezes a chave na fechadura e surge-lhe uma mulher tão gorda que mal cabe na porta. Veste um robe sebento e cheira mal. Descobre que nunca viu tal figura, mas ainda assim pergunta:
- A senhora é que é a Dona Mafalda?
- Não! Chamo-me Efigénia… e você quem é?
Atrapalhado responde:
- Eu sou o Teobaldo e vivo no apartamento aqui ao lado.
A mulher parece espantada com a divulgação, espreita para trás do homem e continua:
- Que é feito do Leandro e do namorado?
- Como?
- Como o quê? Aqui ao lado até ontem vivia o Leandro com o seu novo namorado. Ou será que você é a nova conquista?
Nem deixou terminar:
- Peço desculpa mas vivo neste apartamento vai para cinco anos, sempre sozinho. E não tenho qualquer namorado… nem namorada!
A senhora vira-se para dentro de casa e grita:
- Ponciano vem aqui à porta se fazes favor! Está aqui um tipo a teimar comigo uma coisa…
Um homem esquálido, tez escura e bigode farto, surge por detrás da balofa mulher. Veste um pijama de flanela aos quadrados e rói o que resta de um palito. Exala um odor nauseabundo a álcool:
Olha para a esposa e pergunta:
- É este gajo?
Teobaldo atemorizado recua dois passos.
Alguém lhe suspira de mansinho:
- Acorda amor, olha que já são horas!