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A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

14 Mai, 2015

O retrato!

Ergeu o olhar para o lado oposto da mesa mas a cadeira, tantos anos ocupada, encontrava-se agora vazia. Cinquenta e cinco anos em conjunto! Mais de meio século. E os últimos anos haviam sido de suplício, luta permanente contra uma doença que teimava em evoluir drasticamente. Lembrou-se da promessa entre ambos, muitos anos antes de qualquer enfermidade... - Nunca me leves para um lar, quero morrer na minha cama   - pedira Amélia um dia. Ernesto prometera que assim faria. E fez... (...)
12 Abr, 2015

Em fuga!

... Retalho anterior   O coração de Lídia quase estoirou. Então aquela é que era… a legítima. Deu alguns passos, tímidos e indecisos, em direcção a Arlindo, colocou-se a seu lado observando aquela mulher que caíra redonda no sofá profundamente ébria e serenamente deu a mão ao namorado. Este entrelaçou os dedos e soltou um suspiro. Tantos anos longe daquele estafermo, para aparecer agora, (...)
03 Abr, 2015

Futuro... incerto

... Retalho anterior   Após o almoço sereno e quase sem palavras, fizeram-se à estrada. Mas antes Arlindo foi ter com o velho Albino e despediu-se: - Da próxima vez que cá vier tem de me explicar isso do meu olhar... O velho levantou a velha e suja boina denunciando uma calva franciscana, ajeitou-a na nuca e esboçou um sorriso numa boca sem dentes. Finalmente devolveu: - Você é um homem sereno, mas (...)
Acordou tarde. Não era costume. Mas Verónica saíra de sua casa, pelas 6 da manhã. Ainda arrumou a cozinha, tomou banho e só depois se deitou. Adorara a noite. Jamais nos seus 36 anos de vida tivera uma assim. Filipe não era um melómano, mas adorava música e aquela mulher puxara por ele. Easy Livin dos Uriah Heep, Everyday dos Slade, Grand Hotel dos Procol Harume tantas, tantas outras músicas que ouviram durante toda noite. Parecia uma criança a quem haviam dado um brinquedo (...)
Já raiava o dia quando abriu a porta do prédio. Subiu ao 6º andar e meteu a chave à porta. Rodou duas vezes e entrou finalmente em casa. Ligou a luz que iluminou profusamente uma entrada bem mobilada. Diversos quadros modernos, uma cómoda herança de família e um candeeiro de pé para além dos projectores que emanavam do tecto falso. Dirigiu-se ao quarto e despiu o casaco comprido, cinza. Descalçou os sapatos de salto alto e desceu ao seu metro e setenta. Sentou-se à beira da cama (...)
27 Mar, 2015

Perspicácia!

... Retalho anterior   O caminho entre o cemitério e casa foi feito lentamente, como se houvesse uma força a empurrá-los para longe. Lucinda, agora viúva, pendurara-se no braço de uma das filhas. Lídia agarrara-se carinhosamente ao braço de Arlindo. Pela primeira vez sentia o calor do homem que nascera na aldeia e partira cedo para a cidade e com quem desejava partilhar o futuro. A mãe de negro (...)