Escondidos!
Havia muitas semanas que não dormiam em paz. Quando chegaram ao apartamento após horas às voltas pela cidade de forma a afastarem quaisquer perseguidores, estavam arrasados e aproveitaram ambos para tomar um banho e enfiarem-se na cama. Precisavam realmente de descansar.
Após uma noite bem dormida, Arlindo acordou cedo. Tentou perceber se já era dia mas não conseguiu tal era a opacidade das janelas. Saiu então da cama onde Lídia dormia profundamente e esgueirou-se pelo apartamento até chegar à cozinha. Aí abriu a janela e então percebeu que já era dia. Procurou uma roupa que lhe servisse entre a muita que lhe tinham deixado e evitando fazer barulho saiu, levando unicamente consigo a chave do apartamento de forma a poder regressar sem ter de acordar a namorada.
Desceu as escadas e penetrou na rua. Não imaginava onde se encontrava, mas provavelmente não era em Lisboa. Precisava no entanto de diversas coisas. A primeira seria recuperar a sua identificação que desaparecera por completo, depois dinheiro e finalmente um telemóvel.
Observou o ambiente citadino e descobriu, no meio de alguns carros estacionados, o tal agente anafado que os acompanhara até ali.
Devagar aproximou-se dele:
- Bom dia senhor agente.
- Bom dia…
- Passou aqui a noite?
José Ramos respondeu com maus modos:
- Não, estive em casa. Porquê?
- Por nada… Necessito de diversas coisas. Será que me pode ajudar?
- Depende… o que é?
- Preciso da minha identificação, depois de dinheiro e finalmente de um telemóvel.
- Para que quer isso tudo?
- Porque sou gente e… quero continuar a ser!
Arlindo respondeu também de forma abrupta, que não era seu hábito, de modo a não deixar dúvidas ao agente Ramos. Este pegou então no telefone e ligou para o chefe. Esperou que Arlindo se afastasse do carro e por fim perguntou:
- Olha lá mas eu agora sou alguma ama?
- Que se passa Ramos?
- Saiu daqui agora o teu herói… e disse-me que necessitava de identificação, dinheiro e um telemóvel. Deve achar que ando com isso tudo aqui comigo…
O chefe escutou-o e respondeu:
- Tu sabes que esse casal ajudou a apanhar uma data de criminosos procurados por todo o lado menos na Lua!
- Ó chefe sei disso tudo… Mas como fazemos? O meu ordenado não chega para avarias destas.
Um silêncio cavernoso instalou-se. Depois a resposta:
- Antes de mais eles têm de mudar de identidade. Não quero que sejam perseguidos futuramente. Só depois faremos o resto…
- E se eles não quiserem?
- Querem, querem… Diz-lhes que vais tratar já do assunto.
José Ramos desligou a chamada, saiu com dificuldade do carro devido à sua gordura e encaminhou-se para perto de Arlindo. Colocou-se a lado do causídico e como se não fosse nada com ele foi informando:
- O meu chefe deu-me a indicação que ambos terão de mudar de identificação. Por vossa segurança… - acrescentou.
Arlindo abriu os olhos num espanto e comunicou:
- Nem pensar!
- Vá sôtor… pense bem! A sua vida vale mais que um nome.
- Deixe-se disso. Já fui baptizado uma vez.
José Ramos percebia ambas as situações mas tornara-se óbvio que a vida deles poderia correr perigo. Entretanto Arlindo que vivia interiormente um turbilhão de emoções acabou por perguntar:
- E que nome teríamos? Tem alguma ideia?
- Tenho sim… Lídio e Arlinda!