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A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

03 Abr, 2015

Futuro... incerto

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Após o almoço sereno e quase sem palavras, fizeram-se à estrada.

Mas antes Arlindo foi ter com o velho Albino e despediu-se:

- Da próxima vez que cá vier tem de me explicar isso do meu olhar...

O velho levantou a velha e suja boina denunciando uma calva franciscana, ajeitou-a na nuca e esboçou um sorriso numa boca sem dentes. Finalmente devolveu:

- Você é um homem sereno, mas triste. É tempo de dar cor e luz à sua vida! Não tenha medo do futuro...

Aquele discurso cheirava a profecia. Arlindo estendeu a mão e disse apenas:

- Obrigado!

O condutor olhava estrada sem nada dizer. Lídia encostara a cabeça ao ombro do causídico e dormitava. Quando acordou faltava pouco para chegar. Finalmente encheu-se de coragem e perguntou:

- E agora que vai ser de nós? Precisamos falar...

Arlindo passou a mão pelo cabelo, deu um suspiro, mas nada disse. Lembrou-se duma frase que ouvira algures: "Temos tudo o que necessitamos, que nem sempre é o que desejamos". Entrelaçou os dedos nos de Lídia, apertou-os com vigor e declarou:

- O meu futuro passa por ti, seja onde for, seja onde estiveres. O que eu sinto não é paixão mas carinho, ternura, comprometimento, disponibilidade, tudo junto resume-se numa palavra de quatro letras: amor!

Lídia chorava em silêncio. Arlindo acrescentou:

- Contigo quero também chorar, rir, gritar e suspirar. Serei um romântico lamechas por assim desejar? Nem quero saber... é o que sinto!

O trânsico aumentara consideravelmente com a aproximação da cidade. Com as mãos ainda unidas ele perguntou:

- Deixo-te em casa?

- Não! As minhas malas estão já em Nova Iorque. Posso ficar contigo... se quiseres. Mas se não...O meu voo é amanhã muito cedo.

Arlindo voltou a apertar a mão dela.

- A minha casa será a nossa enquanto aqui estiveres.

Embrenharam-se nas ruas da cidade até que pararam à porta dele. A tarde desaparecia já dando lugar à noite e de foi ainda de mãos dadas que subiram ao apartamento de Arlindo que Lídia jamais conhecera.

Era uma pequeno andar onde tudo aparecia estar arrumado, quase parecia que ali não vivia ninguém havia muito tempo. Para um homem era raro.

- Posso usar a casa de banho? - perguntou ela.

- Claro, é aquela porta - respondeu o namorado.

O toque de campaínha espantou Arlindo:

- Quem será a esta hora?

Sem espreitar abriu a porta e deu de caras com uma mulher completamente embriagada, suja e rota. Trazia uma velha mala a tiracolo e na mão uma garrafa de Rum quase vazia. A princípio Arlindo não a conheceu, mas de repente percebeu-lhe os traços por detrás do cabelo desgrenhado e exclamou:

- Que te aconteceu Jessica?

Esta entrou sem pedir licença e sentou-se no sofá. Quando Lídia saiu da casa de banho dá de caras com um espetáculo deprimente de alguém bêbado. Olha para Arlindo que encolhe os ombros e pergunta-lhe:

- Quem é? - apontando para a visita.

- É a Jessica...

 

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