Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

15 Fev, 2015

O pobre e o rico

A noite abraçou a aldeia com o seu manto negro e silencioso. Apenas a chuva que caía abundantemente se escutava a bater nos telhados ou a cair dos beirais.

Júlio atravessava o casario devagar, cansado de mais um dia de jorna dura. Só assim podia sustentar a pobre família. A sua casa, que mais parecia um pardieiro, situava-se no outro lado da povoação. E o frio e a chuva que se entranhava no corpo franzino tolhia-o ainda mais. O sino tocou oito badaladas. Contou-as como se fossem passos na vida. No lar sabia que encontraria a mulher e a filha que aguardavam por um naco de broa ou umas folhas de couve  para enganar a fome de tantos dias.

- Vida maldita de quem é pobre – concluía.

No instante seguinte apercebeu-se que alguém o chamava. Olhou para o lado e debaixo do alpendre da casa senhorial da aldeia achava-se um homem, vagamente conhecido:

- Arsénio, para onde vais?

- Vou para casa senhor. Porquê?

- Quem te aguarda lá?

- A minha pobre mulher e uma filha pequena.

- A tua família, certo?

- Sim é a única que tenho e para a qual trabalho para sustentar.

O homem saiu do alpendre e entregou a Arsénio um saco. Este recusou a princípio mas o outro insistiu:

- Leva Arsénio para a tua família. Aí dentro encontras um naco de presunto uma galinha pronta a cozer e duas garrafas: uma de azeite e outra de vinho. Aproveita…

Arsénio espantou-se com uma anormal generosidade e perguntou:

- Porquê senhor? Que lhe fiz para tal prenda.

O outro apenas respondeu:

- Partilha com a tua família. Sou rico em dinheiro mas pobre de amigos e família. Sempre pensei que o meu dinheiro compraria tudo…

E vergando-se à conclusão continuou:

- … Mas sei que o dinheiro não compra uma família. Leva homem, leva para a tua casa e partilha com os teus.

Mas Arsénio desconfiava. Pensou um pouco e finalmente aceitou mas impôs uma condição:

- Aceito, sim. Mas vem comigo partilhar a mesa. A minha casa é pobre, muito pobre mas tem sempre lugar para mais um desde que venha em paz.

3 comentários

Comentar post