Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

Acordou tarde. Não era costume. Mas Verónica saíra de sua casa, pelas 6 da manhã. Ainda arrumou a cozinha, tomou banho e só depois se deitou. Adorara a noite. Jamais nos seus 36 anos de vida tivera uma assim. Filipe não era um melómano, mas adorava música e aquela mulher puxara por ele. Easy Livin dos Uriah Heep, Everyday dos Slade, Grand Hotel dos Procol Harume tantas, tantas outras músicas que ouviram durante toda noite. Parecia uma criança a quem haviam dado um brinquedo (...)
Já raiava o dia quando abriu a porta do prédio. Subiu ao 6º andar e meteu a chave à porta. Rodou duas vezes e entrou finalmente em casa. Ligou a luz que iluminou profusamente uma entrada bem mobilada. Diversos quadros modernos, uma cómoda herança de família e um candeeiro de pé para além dos projectores que emanavam do tecto falso. Dirigiu-se ao quarto e despiu o casaco comprido, cinza. Descalçou os sapatos de salto alto e desceu ao seu metro e setenta. Sentou-se à beira da cama (...)
Tamborilava os dedos no volante ao som de Sultans of Swing, dos Dire Straits. Uma música que ele simplesmente adorava e que estava a tocar naquele instante na Rádio Nostalgia. O trânsito naquela manhã desenhava-se caótico. Filipe experiente e conhecedor logo se lembrou:  “Deve ser algum acidente”. E como costumava dizer para si e para os outros, o que não tem solução está solucionado por si, não se preocupou. À sua volta as pessoas dentro dos carros reagiam de forma (...)