Ergeu o olhar para o lado oposto da mesa mas a cadeira, tantos anos ocupada, encontrava-se agora vazia. Cinquenta e cinco anos em conjunto! Mais de meio século. E os últimos anos haviam sido de suplício, luta permanente contra uma doença que teimava em evoluir drasticamente.
Lembrou-se da promessa entre ambos, muitos anos antes de qualquer enfermidade...
- Nunca me leves para um lar, quero morrer na minha cama - pedira Amélia um dia.
Ernesto prometera que assim faria. E fez...
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Acordou tarde. Não era costume. Mas Verónica saíra de sua casa, pelas 6 da manhã. Ainda arrumou a cozinha, tomou banho e só depois se deitou.
Adorara a noite. Jamais nos seus 36 anos de vida tivera uma assim. Filipe não era um melómano, mas adorava música e aquela mulher puxara por ele. Easy Livin dos Uriah Heep, Everyday dos Slade, Grand Hotel dos Procol Harume tantas, tantas outras músicas que ouviram durante toda noite. Parecia uma criança a quem haviam dado um brinquedo (...)
Já raiava o dia quando abriu a porta do prédio. Subiu ao 6º andar e meteu a chave à porta. Rodou duas vezes e entrou finalmente em casa. Ligou a luz que iluminou profusamente uma entrada bem mobilada. Diversos quadros modernos, uma cómoda herança de família e um candeeiro de pé para além dos projectores que emanavam do tecto falso. Dirigiu-se ao quarto e despiu o casaco comprido, cinza. Descalçou os sapatos de salto alto e desceu ao seu metro e setenta. Sentou-se à beira da cama (...)
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O caminho entre o cemitério e casa foi feito lentamente, como se houvesse uma força a empurrá-los para longe. Lucinda, agora viúva, pendurara-se no braço de uma das filhas. Lídia agarrara-se carinhosamente ao braço de Arlindo. Pela primeira vez sentia o calor do homem que nascera na aldeia e partira cedo para a cidade e com quem desejava partilhar o futuro.
A mãe de negro (...)
Tamborilava os dedos no volante ao som de Sultans of Swing, dos Dire Straits. Uma música que ele simplesmente adorava e que estava a tocar naquele instante na Rádio Nostalgia. O trânsito naquela manhã desenhava-se caótico. Filipe experiente e conhecedor logo se lembrou: “Deve ser algum acidente”. E como costumava dizer para si e para os outros, o que não tem solução está solucionado por si, não se preocupou.
À sua volta as pessoas dentro dos carros reagiam de forma (...)
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O relógio digital do carro marcava meio-dia, talvez daí a razão da fome que sentia. Como faltavam poucos quilómetros para chegar à aldeia achou melhor parar para comer pois, certamente, ninguém da família contaria com ele para almoçar.
Desde que saíra da estação de serviço que o seu pensamento voava por entre as horas passadas com Lídia. A última mensagem, da (...)
Aos nossos leitores, em janeiro, foi deixado um desafio, como podem aqui recordar.
A Lídia, nossa gentil e estimada leitora, o seu contributo enviou, quase de imediato. Por minha culpa, dado não consultar a minha conta de correio eletrónico da yahoo há vários meses, só agora nos é possível partilhar esta pérola com os nossos leitores, ao som do desafio: Slave to love.
(...)
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Arlindo sabia que a precipitada demissão da Directora-Geral da empresa estava umbicalmente ligada à sua entrada. Muitas vezes lhe ligou e mandou mensagens para poderem falar, antes da sua admissão, mas Lídia emudecera após o último encontro no seu gabinete.
O jovem segurança optara por trabalhar somente de noite para poder estudar de dia. Um sonho alimentado desde jovem… E (...)
Recordo-me dos tempos idos,
Dos tempos sem tempo.
Lembro-me dos dias tristes,
E das amarguras vãs.
Recordo-me de alegrias fugazes,
E sonhos longamente perdidos.
Lembro-me das noites brancas,
E de amores sentidos e amados.
Recordo-me das faces claras,
Dos sorrisos e das carícias.
Lembro-me das figuras simples,
Mas serenas e amigas.
Recordo-me de não ser,
O que sempre desejei.
Lembro-me de querer
O que nunca pude.
Recordo-me que o amor,
Foi então a (...)
A noite abraçou a aldeia com o seu manto negro e silencioso. Apenas a chuva que caía abundantemente se escutava a bater nos telhados ou a cair dos beirais.
Júlio atravessava o casario devagar, cansado de mais um dia de jorna dura. Só assim podia sustentar a pobre família. A sua casa, que mais parecia um pardieiro, situava-se no outro lado da povoação. E o frio e a chuva que se entranhava no corpo franzino tolhia-o ainda mais. O sino tocou oito badaladas. Contou-as como se fossem (...)