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A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

A Três Mãos

A três mãos se escreve, a dois olhos se lê, a um o pensamento que perdura

08 Jul, 2015

Vi e sente!

Vi o teu crescer lento, tão lento que nem parecias vivo. Vi os medos por ti elevarem-se, a dramas e tragédias sem razão.   Vi o ventre de tua mãe ficar redondo, qual fruta verde e vermelha. Vi a alegria dos teus movimentos, como se fosses um irrequieto.   Vi a azáfama em teu redor como se fosses o único no mundo. Vi a tua forma franzina mas serena, oferecendo finalmente calma e alegria.   Vicente! Isto tudo eu vi e senti!     Também aqui (...)
14 Mai, 2015

O retrato!

Ergeu o olhar para o lado oposto da mesa mas a cadeira, tantos anos ocupada, encontrava-se agora vazia. Cinquenta e cinco anos em conjunto! Mais de meio século. E os últimos anos haviam sido de suplício, luta permanente contra uma doença que teimava em evoluir drasticamente. Lembrou-se da promessa entre ambos, muitos anos antes de qualquer enfermidade... - Nunca me leves para um lar, quero morrer na minha cama   - pedira Amélia um dia. Ernesto prometera que assim faria. E fez... (...)
Recordo-me dos tempos idos, Dos tempos sem tempo. Lembro-me dos dias tristes, E das amarguras vãs.   Recordo-me de alegrias fugazes, E sonhos longamente perdidos. Lembro-me das noites brancas, E de amores sentidos e amados.   Recordo-me das faces claras, Dos sorrisos e das carícias. Lembro-me das figuras simples, Mas serenas e amigas.   Recordo-me de não ser, O que sempre desejei. Lembro-me de querer   O que nunca pude.   Recordo-me que o amor, Foi então a (...)
11 Fev, 2015

Confissão

Ela olhava-o com aquela ternura que o meio século de casamento obriga. Os olhos dele estavam fixos em lugar nenhum. Sem expressão, frios, longínquos. Sentado num velho sofá tinha uma manta a aconchegar-lhe as pernas inertes. Os sucessivos AVC's haviam-no atirado para aquele marasmo e imobilidade. Sentada à sua frente, a mulher passava a colher numa espécie de papa que lhe punha na boca e que ele engolia, provavelmente sem saber. - O que eu não dava homem para ouvir de ti uma (...)
... Retalho anterior   O telefone à sua frente tocou. Ergueu o olhar para ver quem era e leu o nome de Amélia. Premiu o botão de voz alta e respondeu: - Diga Amélia. - Doutora… tem aqui… uma visita… - Uma visita? Quem é? - A pessoa pede para não dizer quem é… Só quer falar consigo… - É trabalho? A porta abriu-se de supetão e Arlindo irrompeu pelo gabinete. - Não, não é trabalho… Lídia ergueu-se furiosa da sua cadeira, passou pelo homem e dirigiu-se à secretária:
  Carlos e Filipa, dois jovens adultos que tiveram necessidade de emigrar, encontraram a sua oportunidade em Barcelona, há cerca de três meses. Festejariam o Natal longe da família, pela primeira vez. A poucos dias da data, decidiram visitar o Parc Güell; passear era a sua tentativa de atenuar as saudades que já começavam a sentir. O parque ora brilhava à luz de alguns raios de sol, ora se tornava melancólico sob as nuvens e o rapaz teve que aumentar a luminosidade do ecrã do seu smart (...)