Triste acordar!
... Retalho anterior
Quando acordou percebeu que estava num hospital. Mas olvidara o que a levara a estar ali e há quanto tempo. Pensou levantar-se mas preferiu aguentar firme até que chegasse uma enfermeira. Aproveitou para ir dormitando e tentou lembrar-se...
A última coisa de que se recordava é estar à porta de alguém a bater. Mas não se lembrava de quem... Interiormente buscou pessoas: a filha? não! Estava havia uns anos com o pai e jamais se preocupara com ela. Um namorado? Talvez... Mas qual? O Pigmélio com quem viajara até Barcelona numa relação de um fim de semana bem picante mas fugaz? O Indalécio o tal menino da mamã quase invertido e que com ela perdera a vingindade? Ou o Filinto o célebre e atlético professsor de Kizomba? Bah...Tinha a certeza que não fora com nenhum deles que estivera nos últimos dias. Mas não podia afiançar.
O seu mundo parecia-lhe uma amálgama de acontecimentos sem recordações, nem boas nem más! Sentia-se como que perdida...
Surgiu finalmente a enfermeira para quem abriu os olhos.
- Ena... temos mulher! Bolas... Já não era sem tempo...
A voz saiu da doente, rouca:
- Onde estou? E porque vim aqui parar?
A enfermeira começara a retirar algum equipamento e foi respondendo:
- Está no hospital e veio para cá em coma alcoólico. Mais um bocadinho...e já era - e fez um gesto que mágico soprando para os dedos.
Jessica não conseguiu acreditar e retornou:
- Coma alcoólico?
- É verdade... Mas deixe lá, isso acontece!
A doente tentou sair da cama mas o chão pareceu mexer-se.Regressou ao leito. A enfermeira avisou-a então:
- Deixe-se estar não se levante. Só sairá quando estiver apta. Ordens médicas.
Uma pergunta final:
- Há quantos dias aqui estou?
- Pelo menos dois dias... Eu também estive ausente...
Deitou-se e voltou fechar os olhos para se tentar lembrar. De súbito endireitou-se na cama e gritou:
- Arlindo...
A cuidadora ia já a sair mas vendo a doente naquela agitação, voltou para trás.
- Calma menina, calma. O que se passa?
Jessica suava abundantemente. Estava tão agitada que a enfermeida veio ao corredor chamar um médico, que passado pouco tempo irrompeu pelo quarto.
- Então menina que temos? Calma, respire fundo e diga-me o que se passa?
Ela emudecera. Os olhos por sua vez pareciam dois morangos tão raiados de sangue. Finalmente apertou o lençol da cama e mordendo o lábio inferior confessou:
- O meu marido, o meu marido... aconteceu-lhe alguma coisa! Sinto aqui no peito...
E batia com a mão junto ao coração.
No instante seguinte caiu na cama a dormir!